segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O MINISTRO - CONSELHEIRO DO BRASIL EDUARDO SABOIA MANDOU À "MERDA" EVO MORALES & CIA

  • 26/08/2013 - 13h13

    Negociações com Bolívia sobre senador eram "faz de conta", diz diplomata brasileiro


    ISABEL FLECK
    DE SÃO PAULO

    Atualizado às 15h41.
    O encarregado de negócios da embaixada brasileira em La Paz, Eduardo Saboia, que trouxe o senador boliviano Roger Pinto Molina ao Brasil sem o aval do Itamaraty, disse que as negociações entre os dois países para resolver a situação do político eram um "faz de conta".
    "Tenho os e-mails das pessoas [diplomatas brasileiros] dizendo 'olha, a gente sabe que é um faz de conta, eles fingem que estão negociando e a gente finge que acredita'", disse Saboia à Folha, por telefone.
    Segundo ele, diante da inação da comissão bilateral que "mal conseguia se reunir", e de uma "situação limite", ele decidiu agir sozinho.
    "Eu disse [ao Itamaraty]: 'se tiver uma situação limite, eu vou ter que tomar uma decisão'. E eu tomei porque havia um risco iminente. Ele [o senador] estava com um papo de suicídio", disse o diplomata. "Era sexta-feira, estava chegando o fim de semana, quando a embaixada sempre fica mais vazia. Aí veio o advogado com o laudo médico me dizer [que ele poderia se matar] e eu disse: vou fazer agora."
    Molina estava asilado há 15 meses na embaixada e não podia sair porque o governo boliviano se recusava em conceder o salvo-conduto. Ele deixou o país com o diplomata e dois fuzileiros na última sexta-feira.
    O senador boliviano Roger Pinto Molina, enclausurado na embaixada brasileira em La Paz desde 28 de maio de 2012
    *
    Folha - O senhor agiu completamente sozinho? O Itamaraty não participou mesmo da sua decisão de trazer o senador?
    Eduardo Saboia - O que aconteceu foi o seguinte: eu vinha avisando [o Itamaraty] da situação, que estava em franca deterioração, e que a gente tinha que pensar em contingências. Contingência seria levar ele para a residência [oficial da embaixada], para uma clínica na Bolívia, para o Brasil.
    Eu vim a Brasília duas vezes para dizer: "olha, a situação está ruim, eu estou sob pressão". Eu era uma espécie de agente penitenciário. Tudo o que acontecia com o senador, eles me ligavam: "Pode entrar bebida? O senador está com dor de barriga, pode entrar um médico?" Eu vivia isso há 452 dias. Agora essas coisas se precipitaram e eu não sou médico, nem psiquiatra, mas diante de um risco iminente, uma situação limite, tomei essa decisão.
    O plano de retirá-lo de carro já era cogitado pelo Itamaraty para ser aplicado em algum momento?
    Veja bem: nós, da embaixada, mandamos muitas comunicações sugerindo várias formas de ação. A única coisa que existia [até agora] era um grupo de trabalho do qual a embaixada não faz parte. Nós éramos apenas informados.
    Eu convivia diariamente com uma situação humanitária. É uma coisa que é muito difícil de explicar, mas você imagina ir todo dia para o seu trabalho e ter uma pessoa trancada num quartinho do lado, que não sai? E você é quem impede ela de receber visitas. Aí vem o advogado e diz que se ele se matar é você que é o responsável.
    Foi uma situação extrema. Eu estava no campo de batalha, estava no fogo cruzado.
    Já tinha inclusive pedido para sair. Falei: "está muita pressão, eu preciso de uma orientação mais clara, eu preciso de um horizonte".
    Editoria de Arte/Folhapress
    Qual era a resposta do Itamaraty?
    Falavam que era questão de tempo. Daí eu perguntava da comissão [bilateral, para resolver a questão do senador], e as pessoas me diziam: "olha, aqui é empurrar com a barriga".
    Ninguém me disse isso por telegrama, porque eles não são bobos. Mas eu tenho os e-mails das pessoas, dizendo "olha, a gente sabe que é um faz de conta, eles fingem que estão negociando e a gente finge que acredita".
    Óbvio que isso aí abalava o senador, ele sabia disso, porque isso aí está na cara. A comissão não tinha um prazo para terminar, mal conseguiam se reunir. Era um faz de conta.
    Não estavam levando a sério e a embaixada era mantida à margem disso.
    Como o senhor viu esse risco de suicídio?
    Eu disse [ao Itamaraty]: "olha, nessa coisa humanitária, eu não vou tergiversar. Se tiver uma situação limite, eu vou ter que tomar uma decisão". E eu tomei essa decisão porque havia um risco iminente. Ele [o senador] estava com um papo de suicídio. Aí podem dizer: "Ah, é uma manipulação". Pode ser, mas é preciso correr esse risco?
    Era sexta-feira, estava chegando o fim de semana, quando a embaixada sempre fica mais vazia. Aí veio o advogado com o laudo médico me dizer [que ele poderia se matar] e eu disse: vou fazer agora. Eu não avisei o Itamaraty por uma questão simples: segurança. Eu não avisei ninguém. E funcionou, deu certo.
    Como o senhor acha que vai impactar a sua decisão para o governo brasileiro?
    Foi uma decisão que tem uma motivação humanitária, mas, na prática, resolve um problema político. Veja bem: para o Itamaraty, como a Bolívia não daria salvo-conduto e o Brasil disse que queria o salvo-conduto e as garantias, nós estávamos num beco sem saída. Só tendia a piorar. Com um agravante de que estamos chegando perto de períodos eleitorais, a situação se radicaliza [nos dois países], a situação se radicaliza e fica muito mais difícil resolver problemas.
    Então essa foi a melhor solução política também?
    Isso resolveu um problema político. O governo brasileiro pode dizer ao governo da Bolívia que eu não estava autorizado a fazer isso. Eu me sinto autorizado pela Constituição Federal, que assegura, como bem maior, a proteção à vida humana e à dignidade humana, que corriam perigo. Eu me senti habilitado a isso. Eu assumi um risco.
    E a operação foi bem sucedida. Não fizemos nenhuma operação com pirotecnia.
    E havia uma predisposição do lado boliviano, mas obviamente eles nunca vão dizer que concordam com isso. Antes de tomar a decisão eu levei em conta a declaração do vice-presidente [boliviano, Álvaro García Linera] que disse que o Roger Pinto está livre, que ele poderia tomar cafezinho e circular pelo país.
    O chanceler [David] Choquehuanca também disse: "olha, o Brasil sabe o que pode fazer e o que deve fazer". Isso, para mim, foi uma dica e uma deixa para a gente fazer isso.
    Então o governo boliviano abriu espaço para esse tipo de solução?
    Sim, eles estavam abrindo espaço para isso. Veja bem, a gente tem que resolver as questões diplomáticas de forma prática.
    O senhor disse que a sua decisão resolve uma questão política, mas não cria problemas para o chanceler Antonio Patriota?
    Nada é perfeito. Eu acho que se eles entenderem isso e não quiserem me crucificar... O que eu quero é sair da Bolívia. Eu não me incomodo de levar um "pito". Eu acho que eles deveriam me agradecer. Eu não quero é levar um processo administrativo, uma coisa que vai me infernizar a vida. Eu tenho uma folha corrida de serviços prestados ao país que é grande. Trabalhei com o ministro Celso Amorim por cinco anos, trabalhei com o chanceler Patriota. Sou uma pessoa disciplinada, não estou querendo protagonismo, não sou de aparecer. Eu quero é ter paz na minha consciência. E eu acho que eu fiz a coisa certa.
    O Brasil foi condescendente demais com a Bolívia nessas negociações? Deveria ter pressionado mais pelo salvo-conduto?
    É muito fácil julgar os outros. Eu não estou em Brasília, eu não sei as pressões que o próprio ministro Patriota recebe, eu não quero julgar.
    Acho que temos que seguir em frente, fortalecer as relações com a Bolívia.
    O senhor avalia deixar sua carreira?
    Deixar não, só se me tirarem. Seria uma vergonha. Porque, em situações extremas, as regras mudam. Eu não matei ninguém, eu não dei nenhuma "carteirada" em boliviano. Eu agi numa situação extrema, que ameaçava não só a vida do senador como o funcionamento da embaixada. Você não sabe o efeito que essa permanência prolongada tinha para o senador e para todo mundo ali naquele ambiente de trabalho. É uma situação muito insólita. Só vendo para crer.

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