sexta-feira, 19 de outubro de 2012

WALKMAN, O FUTURO ESTÁ CHEGANDO


Quem realmente mudou o jeito de ouvir música

18 de outubro de 2012 | 20h12
Nayara Fraga
::BAÚ TECNOLÓGICO::
WALKMAN_PANASONIC_1.jpg
1983. O 1º WALKMAN DE JUSCELINO LIMA, LEITOR DO ‘RADAR’ (Foto: shizaudio.ru)
Em janeiro de 1979, o cofundador da Sony Akio Morita apresentou na Consumer Electronic Show (CES), em Las Vegas, um aparelho que, na década de 1980, mudou o jeito de as pessoas escutarem música. O equipamento, como contou o executivo no evento, surgiu meio que por acaso. É que o filho de Morita tinha o hábito de entrar na companhia carregando um rádio portátil. Isso atrapalhava o trabalho dos funcionários e incomodava o pai. Respondendo à reclamação, o jovem, um dia, perguntou por que não mandar alguém inventar algo melhor com um fone que preste. Aí veio o Walkman.
A história da origem do aparelho tem várias versões na internet. Mas o relato descrito acima é a lembrança do colunista do ‘Estado’ Ethevaldo Siqueira, que estava presente na CES e ouviu Morita associar a história do produto ao filho. O nome escolhido, Walkman, tinha raízes no Pressman, um gravador mono que a Sony havia lançado poucos anos antes, segundo o Pocket Calculator, uma espécie de museu online que rememora os eletrônicos das décadas de 1970 e 1980. A ideia de “homem que caminha” (walk + man, em inglês) transmitia a portabilidade do aparelho.
Não foi feita nenhuma pesquisa de mercado antes do lançamento do Walkman, como lembra o site. “A pesquisa de mercado está toda na minha cabeça!”, Morita disse em uma entrevista à Playboy em 1982. “Nós criamos mercado”. A primeira forma de convencer as pessoas a comprar algo que antes não existia foi usar pessoas influentes, como celebridades e artistas da indústria da música, para espalhar a futura moda. A Sony enviava Walkmans de graça a essas pessoas. E as campanhas de marketing batiam na tecla da juventude, da inovação e da liberdade. Era uma oportunidade (nova) de escutar músicas por meio de um fone – e em qualquer lugar.
walkman_fotopocket.jpg
ANÚNCIO DO WALKMAN. DESCONTRAÇÃO E LIBERDADE (Foto: Pocket Calculator)
A onda pegou no Japão, seguiu para os Estados Unidos e depois correu o mundo. Marcas como Panasonic, Toshiba e GE passaram a produzir aparelhos semelhantes e com nomes tão descolados quanto Escape, Intimate e Stereo-to-go. Mas, após a invenção da Sony, tudo que veio depois era “walkman” (assim como as lâminas de barbear chamadas de “gillette”, mesmo não sendo da Gillette).
E foi um walkman da Panasonic de cor branca que o leitor doRadar Tecnológico Juscelino Lima, hoje com 56 anos, comprou na loja Fototica do Shopping Iguatemi, em São Paulo, em 1983. O produto, modelo RQ-WJ1, é o que aparece na foto acima.
A compra foi motivada por uma visita ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), onde ocorria uma amostra de cinema. Lá ele viu, “pela primeira vez na vida”, um walkman, nas mãos de um cinéfilo. “Achei um barato os fones e o tamanho do aparelho”, diz Juscelino. “Antes (da chegada do walkman) os fones eram enormes e parecidos com os que hoje voltaram à moda.”
Ele gravava as músicas dos LPs nas fitas cassete e depois as ouvia no walkman. Não tinha rádio AM nem FM. “O que mais rolava era rock progressivo, King Crimson, Yes e Zappa”, conta. O aparelho era companheiro diário de Juscelino. Logo, manter as pilhas era um problema. (Não havia pilha recarregável naquela época.) Mas ele se resolveu. Passou a usar baterias da calculadora HP 25C no walkman, e um amigo engenheiro eletrônico ensinou a ele como montar um carregador de baterias alcalinas.
Virou item de primeira necessidade. Juscelino andava sempre com os bolsos da calça cheios de baterias e fitas cassete. Até para o trabalho ele levava o aparelho. O presidente da empresa, do setor de informática, chegou a repreender Juscelino com o olhar. O aparelho não era tão popular naquele tempo. E outra vez um diretor encontrou o jovem dançando ao som de Lou Reed. Mas o caso mais engraçado talvez tenha sido a brincadeira dos amigos. Juscelino conta que eles fingiam gritar coisas (movimentando os lábios, mas sem emitir som), para ele se sentir surdo.
Juscelino não se lembra de quanto pagou pelo walkman da Panasonic. Os primeiros aparelhos fabricados pela Sony no início dos anos 1980 custavam cerca de US$ 150 nos Estados Unidos, segundo o Pocket Calculator. Mas a concorrência fez os preços baixarem. E o walkman tornou-se, então, um aparelho para todos os bolsos e pessoas. Em anúncio exibido nesta página, a marca Mura exibe o walkman ao lado de pés em patins, sapato social, tênis e sandália.
A moda do walkman durou mais de dez anos. Acabou, aos poucos, depois do surgimento do tocador de CD portátil Discman, lançado pela própria Sony. Aí veio a tecnologia do mp3, por volta de 1999. Mais de cem modelos de reprodutores de mp3 foram lançados. ORio foi um dos mais famosos dessa época. Mas aí chegou o iPod, da Apple, em 2001.  A empresa fundada por Steve Jobs (1955-2011)havia vendido 350 milhões de iPods até setembro de 2012.
Estimativas do mercado mencionam a marca de 200 milhões de walkmans vendidos no mundo. Para ter mais detalhes do mercado, a reportagem solicitou entrevista com representante da Sony e com a Panasonic, mas as companhias disseram não ter porta-voz para falar sobre walkman. A Sony enviou uma linha do tempo com a evolução da marca Walkman, hoje representada pela letra W (“para estabelecer uma nova identidade para a era digital)”. Ela aparece em mp3 e mp4 players.
-
Encontramos no Youtube:
O primeiro Walkman da Sony:  TPS-L2
Comercial da Sony, de 1983
-
Acervo
A Sony foi, claramente, a pioneira no segmento de walkmans. Mas a invenção do aparelho é reclamada pelo filósofo brasileiro Andreas Pavel, que o teria criado em 1972 numa casa modernista perto do Bosque do Morumbi.  Depois de gastar US$ 3 milhões com advogados, ele assinou um acordo com a Sony em 2004 que teria chegado a US$ 10 milhões. Veja a história em O Walkman, quem diria, é brasileiro’, reportagem publicada no ‘Estado’ em 15 de agosto de 2004.
WALKMAN.jpg
Compartilhe com a gente
O Baú Tecnológico é um espaço para você compartilhar a lembrança daquele eletrônico que você tanto amou (ou odiou). Tem até hoje um celular tijolão? Um Super Nintendo? Um Tamagotchi? Um Pense Bem? Compartilhe seu saudosismo com a gente. Se você tem alguma sugestão, envie e-mail paranayara.fraga@estadao.com. Esta coluna é publicada neste blog a cada quinzena.
-

Nenhum comentário: