segunda-feira, 28 de maio de 2012

CASA DA MOEDA DO BRASIL: VEJA A NUMERAÇÃO DAS NOTAS QUE " SUMIRAM"

Estivemos em um dos lugares considerados mais seguros do país. Onde ninguém entra sem passar por um rigoroso sistema de revista. 

Lá nascem os bilhões de reais que circulam todos os dias no país. É a Casa da Moeda, que fica no bairro de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. O investimento milionário em segurança não foi suficiente para evitar o que aconteceu dentro do prédio, em janeiro de 2011. 

A sequência de notas que sumiram da casa da moeda é: BA 27.787.201 e BA 27.787.300 
Você tem uma nota de R$ 50 no bolso? Se tiver, dê uma boa olhada nela. Confira a série e o número, que fica no canto da nota. Se ela estiver entre a numeração BA 27.787.201 e a BA 27.787.300, guarde bem essa nota e preste ainda mais atenção no que vamos contar agora: essa é misteriosa história de 100 notas de R$ 50 que sumiram de dentro da Casa da Moeda do Brasil. 

O Fantástico teve acesso exclusivo aos documentos da comissão interna que investigou essa história. 

Um segredo que foi guardado por mais de um ano pela presidência da instituição. Apesar de todo o aparato de segurança e de controle da produção, o sumiço do dinheiro foi descoberto por acaso. 

No dia 15 de janeiro de 2011, a funcionária responsável pelo controle de qualidade de impressão percebeu que, em uma folha, havia um pequeno defeito. Um gerente decidiu, então, verificar se outros lotes impressos no mesmo dia estavam com o mesmo problema. 

Ele entrou no local que deveria ser o mais seguro do prédio: o cofre onde fica o dinheiro pronto para ser enviado ao Banco Central. Ao verificar os lotes, que são numerados e lacrados com plástico, encontrou um dos pacotes abertos. Ao conferir o conteúdo, o gerente percebeu que, em vez das mil notas que deveriam estar ali, havia somente 900. Ou seja: 100 cédulas de R$ 50 tinham desaparecido. 

Quando as imagens do circuito interno de segurança foram revisadas, veio a descoberta de uma falha grave: a câmera número 3, que mostra o setor de embalagem de notas já prontas, não cobria toda a área. 

Ou seja: havia um ponto cego, um lugar onde alguém poderia estar sem ser detectado pelas câmeras.

Segundo a comissão de investigação da Casa Moeda, foi exatamente o que fez um dos operadores de máquinas. 

As imagens não foram divulgadas. Mostramos uma simulação que segue a descrição feita pela comissão, que analisou o vídeo. 

O operador trabalhava em uma máquina seladora, que lacra o lote de dinheiro com uma embalagem plástica. Às 14 horas e 45 minutos do dia 14 de janeiro de 2011 uma luz vermelha se acendeu na linha de produção, indicando algum problema de qualidade. 

Nesse momento, o funcionário pegou o lote de dinheiro, ainda sem estar lacrado, e saiu do alcance da câmera. Enquanto isso, outro lote foi reposto na esteira por uma funcionária. Um procedimento normal, para dar continuidade à produção. 

O operador, então, aparece fazendo a conferência das notas que retirou. Ele devolve o lote para a máquina de embalagem, que lacra as cédulas. 

Em seguida, uma outra funcionária, responsável por encaixar proteções de papelão nos pacotes de dinheiro, percebe algo estranho no lote manuseado pelo operador. 

Ainda segundo o relatório da comissão de investigação, o operador se aproxima da funcionária e diz algo. A mulher, então, libera o dinheiro para o cofre. 

No dia seguinte, quando o sumiço já tinha sido descoberto, os funcionários pararam a produção e fizeram um pente fino para tentar achar o dinheiro. Até as máquinas de impressão foram desmontadas. 

Segundo a direção da Casa da Moeda, o lote de onde sumiram as cédulas só foi manuseado pelo operador da máquina seladora. 

Ele disse à comissão que "não tem ideia do que possa ter acontecido". 

Já a funcionária contou que "não se lembra do teor da conversa que teve com o operador" e que pode ter sido algo sobre algum problema no empacotamento das notas. 

As ações do gerente também chamaram a atenção da comissão, porque, ao conferir o lote onde faltavam as notas, ele jogou o lacre fora, que tinha o nome de quem fechou pela última vez o pacote de dinheiro. 

Na época em que o dinheiro sumiu, a instituição estava modernizando as linhas de produção. 

Segundo o texto do relatório, os funcionários não davam conta do trabalho e, por isso, havia até cédulas inacabadas, impressas pela metade, se acumulando no meio da gráfica. Várias eram guardadas até em sacos de lixo. 

Sem descobrir onde foi parar o dinheiro sumido e sem ter certeza do que aconteceu no dia 14 de janeiro de 2011, a comissão acabou sugerindo, em dezembro, o arquivamento do caso. 

"A exteriorização do episódio", diz o relatório final, "ecoa de forma negativa junto à sociedade, arranhando com certeza a imagem de empresa segura". Só agora, oito meses depois da investigação ter terminado, a presidência da Casa da Moeda decidiu comunicar o caso à Polícia Federal. 

Para o delegado, a demora foi um erro. 

“Eu considero um equívoco. Tomou conhecimento do fato, comunica a Polícia Federal para instaurar o procedimento criminal, inquérito policial”, diz Victor Hugo Poubel, delegado da Polícia Federal. 

O presidente da Casa da Moeda na época era Luiz Felipe Denucci. O afastamento dele da instituição nada tem a ver com o sumiço das notas. Denucci foi exonerado do cargo, em janeiro, depois de denúncias de que teria recebido propina de fornecedores da Casa da Moeda através de empresas no exterior. 

O superintendete Álvaro Soares, que já ocupava o cargo quando as notas sumiram, acredita que a quantidade de cédulas desaparecidas foi pequena. E que o processo é seguro. 

“O controle existe. Tanto que nós estamos falando de 100 cédulas em 4 bilhões, que é o programa anual desse ano. Se você tem um controle que detecta o desaparecimento de 100 cédulas num volume desses significa que você tem um controle e que esse controle é efetivo”, acredita Álvaro de Oliveira Soares. 

Ele diz que não é aceitável que se perca nem uma cédula sequer. 

“Não é aceitável perder nenhuma, mas acontece, e se acontece tem que ser apurado”, afirma Álvaro. 

O delegado explica o que aconteceria se essas notas aparecerem circulando pelas ruas. 

“Fica solidamente provado que realmente houve a subtração e a prática do crime. Essa é a prova que a Polícia Federal precisa”, diz Victor Hugo Poubel. 

A investigação também vai tentar apurar se outros desvios já aconteceram. Depois que máquinas lacram o dinheiro, a Casa da Moeda envia os lotes para o Banco Central. De lá, as cédulas vão para as centrais de distribuição do Banco do Brasil, e delas para os bancos comerciais. 

O Banco Central diz que não reconfere as cédulas. O Banco do Brasil não se pronunciou. Agora a Polícia Federal quer saber se pequenas quantias poderiam ser desviadas dentro da Casa da Moeda e o sumiço ser percebido apenas quando o dinheiro chegasse as agências do varejo. Neste caso, os suspeitos se multiplicariam. 

A Casa da Moeda alega que é impossível que pacotes abertos saem de seus cofres. 

O Banco Central, responsável por colocar o dinheiro em circulação, informou que essas notas são válidas. É importante deixar claro que quem tem uma dessas cédulas não cometeu crime nenhum e ainda pode ajudar nas investigações. Confira no site do Fantástico o número de série das notas que sumiram. Caso você esteja com alguma delas, procure a polícia. 

“Alguém subtraiu. Dinheiro não tem asa”, afirma Victor Hugo Poubel. 

Luiz Felipe Denucci, que era presidente da Casa da Moeda quando o dinheiro desapareceu, não Foi localizado pela nossa reportagem. 


http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1680594-15605,00-PF+INVESTIGA+SUMICO+DE+MAIS+DE+R+MIL+DA+CASA+DA+MOEDA.html

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