segunda-feira, 25 de abril de 2011

YAKUZA - A MÁFIA JAPONESA

Os bastidores da máfia Japonesa

24 de abril de 2011 | 10h 29

Filha de um dos líderes da Yakuza, Shoko Tendo revela em livro como foi sua vida dentro da organização
Felipe Branco Cruz - Jornal da Tarde

Shoko Tendo, 42 anos, é filha de Hiroyasu Tendo, morto em 1997, um dos mais altos comandantes da máfia japonesa, a Yakuza. Ela nasceu e foi criada num meio extremamente violento. Seu pai era alcoólatra e agressivo. Além disso, no colégio, ela sofria discriminação por parte dos professores e colegas por fazer parte dessa família. Aos 15 anos, ela já fazia parte de uma gangue. Aos 18, estava viciada em drogas. Depois da morte dos pais (a mãe morreu em 1991, aos 59 anos), ela tentou se suicidar. Esse foi o momento crucial da guinada em sua vida. Mesmo não sendo parte da máfia (mulheres são proibidas), ela seguiu a tradição e, aos 20 anos, tatuou todo o seu corpo, num ritual chamado irezumi, de resistência à dor.


Hoje, quem vê Shoko brincando com sua filha Komachi, 5 anos, não imagina o que ela passou. Toda essa inacreditável história está relatada no livro Yakuza Moon - Memórias da Filha de um Gângster, lançado recentemente no Brasil pela Editora Larousse. Shoko foi a primeira mulher a quebrar o código de silêncio que vigora na máfia japonesa. Ela, que não fala inglês, conversou com o JT por e-mail (leia a entrevista abaixo). Mesmo com um passado violento, Shoko afirma nunca ter matado ninguém. Também nunca viu seu pai matar ninguém. "Mas se ele tivesse praticado esse ato, pensaria que agiu assim porque teve motivo para isso", diz.

O livro, segundo ela, serviu como uma forma de tirar das costas todo o peso que sentia por ter tido uma vida como essa. Para o futuro, seus planos são modestos. Ela quer cuidar da filha e gostaria que a criança, quando crescesse, "fosse uma esposa bem comum e construísse um lar feliz". Shoko não quer deixar que a filha cometa os mesmos erros que ela. Erros esses que incluíram se envolver sexualmente com membros da Yakuza, pessoas violentas que a espancavam periodicamente, além de a terem apresentado às drogas.

A decisão de fazer as tatuagens foi motivada após uma surra que deixou marcas pelo corpo todo. Por causa dessas surras, ela teve de fazer uma cirurgia plástica para reconstruir o nariz. A filha é fruto de um relacionamento com um fotógrafo. Hoje, ela é mãe solteira e, no Japão, ser mãe solteira também é motivo de discriminação.

No livro, Shoko relata como foi a primeira vez que viu a violência da Yakuza de perto. Foi quando ela tinha 6 anos e um homem bateu à porta de sua casa. Ele estava ensanguentado e trazia numa caixa seu dedo cortado como forma de se desculpar por um erro cometido dentro da máfia. Mesmo assim, conta ela, seu pai deu uma surra no rapaz. O pai também era infiel com a mãe e levava as amantes para dentro de casa. A mãe, que era rigorosa com as regras de etiquetas japonesas, servia bebidas às amantes.

A autora não tenta defender a Yakuza, mas afirma que a organização criminosa é uma espécie de irmandade, cujos integrantes se protegem e ajudam a comunidade na qual estão inseridos, fazendo doações, entre outras ações. Com relação ao terremoto e tsunami, que abalaram o Japão, Shoko acredita que a Yakuza está "procurando enviar maior quantidade possível de doações materiais para apoio". Shoko não se considera membro da organização mafiosa. "É um mundo para homens".

‘Yakuza Moon - Memórias da Filha de um Gângster’ - Larousse - Preço: R$ 29,90

PINGUE-PONGUE: ‘Yakuza não é uma organização criminosa’

Shoko Tendo - autora do livro

Shoko Tendo nasceu no seio de uma das organizações criminosas mais fortes e conhecidas do Japão, a Yakuza. Os membros dessa máfia costumam cortar os dedos da mão para se desculparem com seus superiores e tatuam todo o corpo, como uma forma de identificação de grupo e também de resistência à dor. Shoko, em seu livro, conta os bastidores dessa irmandade japonesa e o que fez para não sucumbir a tanta violência.

Para você, quais foram os motivos que levaram sua história a gerar tanto interesse e a ser traduzida em tantos idiomas?

Acho que as pessoas de outros países tinham interesse pela Yakuza do Japão e meu livro descrevia, sem segredos, o lado sujo da Yakuza.

Hoje você está fora da Yakuza?

Não há probabilidade de uma mulher ser Yakuza no Japão. Yakuza é um mundo para homens. Portanto, não sou integrante não tenho nenhuma relação com essa organização.

Qual foi a reação dos integrantes da Yakuza quando o livro foi lançado?

Muitos deles se identificaram com o que escrevi.

Você já recebeu alguma ameaça de morte?

Disseram que fui ameaçada de morte pela minha família quando tentei suicídio. Eu estava inconsciente. Diretamente, nunca recebi a ameaça.

Você já matou alguém?

Não.

Você já viu seu pai matando alguém?

Nunca vi. Mas se ele tivesse praticado esse ato, pensaria que agiu assim porque teve motivo.

Todo membro da Yakuza é obrigado a fazer essas tatuagens?

É liberdade de cada um.

Quando pessoas do mundo inteiro se corresponderam com você, elas estavam curiosas com sobre a Yakuza ou se identificaram com sua história?

Se tivesse que apontar um desses motivos, diria que a maioria das opiniões foram demonstrações de interesse pela minha vida.

Com o recente tsunami e terremoto que abalaram o Japão, o que acredita que a Yakuza esteja fazendo para ajudar as vítimas?

Estão procurando enviar maior quantidade possível de doações materiais para apoio.

Para você, que conhece a organização de dentro, ela é criminosa ou uma sociedade secreta?

Yakuza não é uma organização criminosa. Estar enraizado em um território significa proteger a comunidade de outro Yakuza que vem de fora. Difere também do sentido de sociedade secreta.

Qual é o futuro que você espera para você e sua filha?

Gostaria que ela fosse uma esposa bem comum e construísse um lar feliz.



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