quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

FAMÍLIA VON RICHTHOFEN

Ilana Casoy reconstitui crime de Suzane von Richthofen em livro

da Livraria da Folha



Em 2002, o assassinato do casal von Richthofen chocou o Brasil. Eles foram encontrados mortos a golpes de bastão em sua casa. Em uma semana de investigação surgiu o fato mais chocante, o crime fora planejado pela filha do casal e executado por seu namorado e seu cunhado.

Ilana Casoy, pesquisadora que se dedica exclusivamente ao estudo de crimes violentos e assassinatos em série, refez os passos dos jovens em "O Quinto Mandamento". Ela observa o comportamento de Suzane, os depoimentos dos familiares, o trabalho de investigação da polícia e a busca por provas.


Ana Ottoni
Autora Ilana Casoy se dedica há onze anos ao estudo de crimes violentos e assassinatos em série

Além de analisar as motivações de Suzane e a premeditação do crime, Ilana, que acompanhou a reconstituição do crime, mostra como esta foi uma atuação sem precedentes na história da polícia.

Leia um trecho do livro:

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O Crime

Quarta-feira, 30 de outubro de 2002. O vigia da rua Zacarias de Góis, no bairro paulistano de Campo Belo, Francisco Genivaldo Modesto Diniz, assistia ao final do jogo Corinthians e Flamengo, direto do Maracanã, de dentro da guarita. Finalmente seu time superava o tabu de onze anos sem vencer no Rio de Janeiro: o placar estava Corinthians 1, Flamengo 0. Francisco então ouviu um carro entrando na rua. Era o Gol da moradora do número 232, onde vivia a família Von Richthofen, nome complicado que ele sempre esquecia. Todos da casa eram quietos, reservados, e Francisco não sabia muito sobre eles. A mulher era mais simpática, sempre o cumprimentava quando entrava ou saía. O homem nem olhava para os lados. Do casal de filhos, nada sabia. Viu quando o portão da garagem se abriu e o carro da menina Suzane, com ela na direção, entrou na residência, mas no escuro não conseguiu enxergar quem mais estava dentro. Também nãos e preocupou com isso; tudo parecia em ordem.

Dentro da casa aquele não seria um dia normal. Os atos que se seguiriam selariam o destino de muitos e mudariam radicalmente as histórias de tantas vidas.

Depois de fechar as portas da garagem com o controle remoto, Suzane von Richthofen, Daniel Cravinhos de Paula e Silva e Cristian Cravinhos de Paula e Silva, ainda dentro
do "cavalo de tróia", repassaram as etapas planejadas meses antes, com cuidado. Suzane retirou da bolsa as meias de nylon e as luvas cirúrgicas (que a mãe usava para tingir os cabelos) e as distribuiu aos dois irmãos: "Vistam isso para não deixar nenhuma prova da passagem de vocês aqui. Não podemos deixar nenhum vestígio". Daniel emendou: "Fica tranquila, tudo vai ser como combinamos. Vamos entrar e verificar se os 'velhos' estão mesmo dormindo".

Cristian retirou do porta-malas os bastões que Daniel havia construído com a habilidade de quem passou a vida montando aeromodelos complicados. Os bastões foram feitos com perfilados de obra de ferro, aqueles com furinhos, parecidos com prateleiras reguláveis na altura, daquelas que ocupam as paredes de centenas e centenas de escritórios por aí. São barras com formato de "u" com as bordas retas, de forma que duas delas se encaixam perfeitamente quando colocadas de frente. Daniel ainda teve o cuidado de preencher o meio das barras com madeira, pata que elas ficassem mais pesadas e eficientes. Na ponta da madeira foi feito um punho, na base do bastão, para que os assassinos executassem suas vítimas de forma competente, sem barulho e sem machucar as mãos.

Os três entraram na casa. O grupo cruzou a área da piscina, que fica entre a garagem e a porta da frente. Entraram pela porta já aberta e acompanharam a garota até o pé da escada.

Cristian não estava muito feliz com o acordo. Caberia a ele matar a mulher do casal, o que o deixava desconfortável. Também não acreditava muito que Daniel e Suzane realmente fossem levar aquele plano adiante. Enfim, assim que a execução começou, limpou a cabeça de todos os pensamentos que pudessem atrapalhá-lo e esperou o comando.

Suzane subiu em silêncio e verificou que seus pais dormiam tranquilamente, a sono alto. Voltou para o patamar intermediário, onde fez sinal para que os rapazes subissem. Conforme o previamente combinado, Daniel ficou do lado esquerdo da porta do quarto; Cristian, do lado direito, e Suzane, ao lado do interruptor de luz do hall, um pouco mais atrás. Tudo estava muito escuro e o silêncio era absoluto. A filha do casal deu a voz de comando: "Vai", disse ela, enquanto acendeu a luz que guiaria o caminho dos algozes de seus pais e desceu as escadas para não assistir à carnificina.



O Quinto Mandamento
Autor: Ilana Casoy
Editora: Ediouro
Páginas: 192

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