quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

TIRADENTES, AINDA RENDE PENSÕES. LEIAM!!

Duas tetranetas de Tiradentes também vão pedir pensão

Mais de 200 anos após a morte de Tiradentes, duas tetranetas do mártir da Inconfidência pretendem reivindicar uma pensão especial do governo que uma irmã delas já recebe. Nascidas no Rio, as irmãs moram em Brasília. Carolina Menezes Ferreira, 67, disse à Folha que o direito à pensão existe porque a ascendência está provada por documentos. Ela afirma que o processo só não começou ainda por falta de tempo. "A gente sabe que, se entrar, é tranquilo que ganha", diz. Carolina fará o pedido com a irmã Belita Menezes Benther, 71, que ganha pensão do governo do Distrito Federal pela morte do marido.

" A Execução de Tiradentes
(Joaquim José da Silva Xavier)

No dia 19 de abril entrava na cadeia pública do Rio de Janeiro, rodeado de outros ministros da justiça, o desembargador Francisco Alves da Rocha para ler a sentença aos réus que desde a noite da véspera haviam sido transferidos de vários degredos da cidade para a sala chamada Oratório. Eram onze os criminosos que ali esperavam, algemados e cercados de forca embalada, a última palavra de seus destinos.

A leitura da sentença erudita e cheia de citações durou duas longas horas; ao cabo delas eram todos os infames condenados à forca e a alguns cabiam ainda mais o horror de, insepultos e esquartejados, servirem os seus membros, espetados em postes, de padrão da execrável perfídia.

Quando o desembargador se retirou, diz uma testemunha do acontecimento, viu-se representar a cena mais trágica que se podia imaginar. Mutuamente pediram perdão e o deram; porém cada um fazia imputar três anos incomunicáveis, era neles mais violento o desejo de falar que a paixão que a tal sentença cavaria nos cansados corações. Nesta liberdade de falarem e de se acusarem mutuamente estiveram quatro horas; mas quando se lhes puseram os grilhões e manietados viram-se obrigados a deitar-se, por menos incômoda posição, abateram-se-lhes os espíritos e entraram então a meditar sobre o abismo da sua sorte.

Dentro em pouco, porém, um raio de esperança iluminou-lhes a torva existência. O mesmo ministro que lera a rude sentença, veio horas depois denunciar a clemência da rainha, que aos conjurados, exceto Tiradentes, poupava o suplício da morte. Então foram grandes os extremos da alegria e com aquela inesperada piedade sentiram-se rejuvenescer.

Tiradentes também, conforme o seu coração bem formado e leal, participou desses transportes, e dizia que só ele em verdade devia ser a vítima da lei e que morria jubiloso por não levar após si tantos infelizes que desencaminhara.

Tiradentes era um espírito grandemente forte, e na religião achou mais largo e substancioso conforto do que os outros companheiros de espírito leviano ou inconsiderado.

Na manhã de 21 de abril entrou na sua cela o algoz para vestir-lhe a alva, e ao despir-se dizia o mártir que o seu "Redentor morrera por ele também nu".

A cidade estava aparelhada como para uma grande festa em honra à divindade do governo supremo. Aos sons marciais das fanfarras saíram de todos os quartéis os regimentos da guarnição, luzidios, com os uniformes maiores: seis regimentos e duas companhias de cavalaria que em tropel corriam a cidade, guarada agora momentaneamente pelos auxiliares. No campo da Lampadosa erguia-se o lúgubre patíbulo, alto, sobre vinte degraus, destinado ao memorável exemplo.

Na frente da cadeia pública organizou-se a procissão em ato declarado fúnebre, com a Irmandade da Misericórdia e a sua colegiada, e o esquadrão de cavaleiros da guarda do Vice-Rei. Saiu o réu que foi posto entre os religiosos que iam para confortá-la e o clero e as irmandades, guardados pela cavalaria.

Tiradentes tinha “as faces abrasadas", caminhava apressado e intrépido e monologava com o Crucifixo que trazia à mão. e à altura dos olhos. Nunca se vira tanta constância e tamanha consolação!

Ao préstito juntou-se a turba dos curiosos, e, avolumando a multidão, era mister que de vez em quando dois cavaleiros a. destroçassem.

Pelas 11 horas do dia, que fora de sol descoberto e ardente, entrou na larga praça, por um dos ângulos que faziam os regimentos postados em triângulo, o réu com todo o acompanhamento. Subiu "ligeiramente" os degraus, sem desviar os olhos do santo Crucifixo que trazia, e serenamente pediu ao carrasco que não demorasse, e abreviasse o suplício. O guardião do convento de Santo Antônio, imprudentemente, por mal-entendida caridade ou por não saber conter o seu zelo demasiado, tomou a palavra, admoestando a curiosidade do povo, sem todavia esquecer o elogio da clemência real.
Depois do credo, a um frêmito de angustia da multidão, viu-se cair suspenso das traves o cadáver do mártir.

Foi profunda a impressão no povo, que, apertado e numerosíssimo em todo o campo, abalara para ver o abominável espetáculo. As janelas apinhavam-se de gente e nas ruas e praças era impossível o movimento. As pessoas mais delicadas, contudo, haviam desde a véspera abandonado a cidade para não testemunhar a execução.

Após o suplício, um dos religiosos falou, tomando o tema do Eclesiastes: In cogitatione tua regi ne detrahas ... quia aves reli portabunt vocem tuam. Não atraiçoes a teu rei nem por pensamentos: as mesmas aves levar-te-iam o sentido deles.

História do Brasil – Curso Superior, 8ª. Ed. Rio de Janeiro, págs. 353-356, 1918

Mais sobre: A Execução de Tiradentes: Joaquim José da Silva Xavier"


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