sábado, 29 de janeiro de 2011

OS BANQUEIROS QUE IRÃO DORMIR NO BANCO DA PRAÇA - QUEBRADINHOS???

NEGÓCIOS

Nº edição: 695 | Negócios | 28.JAN - 21:00
Dois banqueiros em apuros
Rombo muito maior do que o esperado faz Silvio Santos colocar o PanAmericano à venda e Edemar Cid Ferreira, ex-dono do Banco Santos, é despejado de sua mansão e torna-se um sem-teto

Por Clayton Netz e Cláudio Gradilone

Dois dos banqueiros mais conhecidos do País voltaram, por motivos diferentes, às manchetes na semana passada. Silvio Santos, proprietário do Banco PanAmericano, e Edemar Cid Ferreira, dono do falido Banco Santos, tiveram suas dificuldades amplamente comentadas pela imprensa.

Ferreira foi despejado de sua suntuosa mansão na zona sul de São Paulo (veja boxe). Já o balanço do PanAmericano, cuja divulgação está prevista para o início desta semana, poderá mostrar um rombo que é estimado pelo mercado em R$ 4 bilhões, muito acima dos R$ 2,5 bilhões inicialmente informados pelo Banco Central em novembro.



O sem-teto e o sem-banco: Edemar Cid Ferreira foi despejado de sua mansão faraônica (dir.)
e Silvio Santos comunicou ao mercado a intenção de vender o PanAmericano

Na sexta-feira 28, o PanAmericano divulgou um fato relevante confirmando “uma possível negociação com outras instituições financeiras” para a venda de seu controle. Os candidatos à compra eram os bancos BTG Pactual, Bradesco e Safra. Procurado, o trio não comentou o assunto, assim como a Caixa Econômica Federal, que divide o controle do banco com Silvio Santos.

O PanAmericano deve ser vendido, pois o patrimônio pessoal de Silvio Santos, estimado em R$ 2,7 bilhões, não seria suficiente para cobrir o rombo. Apesar do buraco nas contas, a instituição é uma noiva cobiçada devido à sua presença junto às classes C e D.

“O PanAmericano não é simplesmente um banco, é uma instituição financeira vinculada a uma rede de televisão extremamente popular”, diz Fernando Meibak, sócio da consultoria Moneyplan. “Essa é uma vantagem incomparável para quem quer crescer rapidamente nesse mercado.”

O grande trunfo nas mãos do banco é sua capacidade de conceder empréstimos de maneira barata, por meio de uma rede de financeiras. Essas lojas não contratam bancários e não têm de pagar os custos elevados de segurança das agências bancárias. O grupo também estaria recebendo propostas de compra para outras empresas, como a rede de lojas Baú da Felicidade, que possui 127 pontos de venda, e a companhia de cosméticos Jequiti.

O porte das dificuldades surpreendeu o mercado. “O banco foi vítima de uma fraude muito séria”, disse à DINHEIRO Luiz Sandoval, ex-presidente do Grupo Silvio Santos. Segundo ele, os problemas começaram com a adulteração do sistema de controle financeiro, chamado Autobahn, desenvolvido por uma empresa de informática do Espírito Santo, a Projeta. “Depois que o sistema foi alterado, a fraude contábil foi apenas uma consequência”, diz Sandoval.

A construção do rombo passou por vários desvios. Por exemplo, contratos de crédito pagos pelos devedores eram considerados como não pagos, inflando as contas. Apesar de os especialistas considerarem a cifra exagerada, há uma unanimidade em relação ao comprometimento da imagem do banco, o que transforma a venda em única solução. “Banqueiro na primeira página é mau sinal”, diz Meibak.


Companhia incômoda

Acostumado a cifras superlativas, o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira foi definitivamente ultrapassado por seu colega de trabalho Silvio Santos, em termos de rombo numa instituição financeira nos tempos pós- Proer, o programa de salvamento dos bancos criado pelo governo FHC, em 1996.

O Banco Santos, de Edemar, fechou as portas, em setembro de 2005, com um buraco de R$ 2,2 bilhões. Hoje se sabe que as alegadas inconsistências contábeis do PanAmericano, de SS, devidamente rebatizadas de fraudes, podem chegar a R$ 4 bilhões.

A revelação de que a farra no PanAmericano tinha extrapolado todas as previsões não veio em boa hora para Edemar, pois não ajuda em nada a melhorar a imagem dos banqueiros quebrados ou semiquebrados junto à opinião pública.

Ela ocorreu uma semana depois de o ex-banqueiro ter sido despejado de forma humilhante de sua faraônica mansão de 4,2 mil metros quadrados de área construída, localizada no Morumbi, em São Paulo. Projetada pelo arquiteto Ruy Ohtake, o imóvel está avaliado em R$ 80 milhões. Obrigado a sair a toque de caixa da casa, Edemar abrigou-se num flat da capital paulista.

Mais do que ter de habitar (provisoriamente, acredita Edemar, que deixou roupas, remédios e objetos pessoais para trás) um imóvel cujas dimensões são infinitamente menores do que qualquer um dos closets que abrigam suas roupas e sapatos, o que mais o entristece é afastar-se do verdadeiro museu em que transformara a mansão.

Repleta de obras de arte de todas as épocas e tendências espalhadas pelos seus cinco andares – de peças fenícias e romanas a quadros e escultoras de artistas como Di Cavalcanti, Brecheret, Robert Rauschenberg e Sandro Chia, passando por móveis de época e luminárias caríssimas –, é considerada como a grande realização pessoal de Edemar.

Recluso no flat, Edemar não perde as esperanças e batalha na Justiça o direito de voltar ao lar,doce lar ao lado de Márcia, sua mulher. Procurado pela DINHEIRO, ele retornou a ligação, educado e simpático como sempre.

Mas delicadamente negou-se a comentar o despejo, alegando seguir instruções de Luis Corvo, seu atual advogado. “Se eu falar, ele pode ficar com raiva de mim”, disse Edemar.” E não há nada pior do que um advogado contrariado com o cliente.”

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